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Tema: Força Crua – Morte de Inês de Castro.
A história do amor trágico de Pedro e de Inês de Castro constitui a inspiração da nossa escultura, a qual procura representar, simbolicamente o amor dos dois, interrompido pela morte de Inês de Castro. Baseamo-nos também em Luís de Camões que, em Os Lusíadas (estrofe132) assim diz:
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
O grande amor “tu, só tu, puro amor”, “força crua”, associado à tragédia que vitimou Inês de Castro, está representada através de uma escultura de dois corações humanos cuja grande escala procura reflectir “As obras com que Amor matou de amores”, em que “o amor é tirano, [e] não se contenta com lágrimas, exige sacrifícios humanos”.Este amor é evidenciado pela presença do coração dos dois amantes, D. Pedro “Aquele que a despois fez Rainha” e Inês de Castro. Os corações encontram-se juntos, lado a lado, tal como era seu desejo em vida e para eternidade (aeturnus), pois assim o quis D. Pedro – que mandou desenterrá-la, trazendo-a para o Mosteiro de Alcobaça para dela fazer Rainha, coroando-a, dois anos após a sua morte. Tendo colocado os seus túmulos frente a frente, para que assim permanecessem, unidos ad aeternum. Os corações, principalmente o de Inês de Castro surgem raiados a ouro para enaltecer o valor do símbolo da vida — o coração — cuja vida, paradoxalmente, foi destruída por amor. Na aplicação do ouro às marcas no coração “destruído”, inspiramo-nos na tradição da estética japonesa Kintsigu que, através de remendos e costuras a ouro nas peças quebradas, sublinha e enfatiza a importância da aceitação do “imperfeito” e, simbolicamente, a aceitação e valorização das vicissitudes da vida. Neste caso, o remendo a ouro, visa torná-lo mais valioso, fortalecendo o imaginário histórico do amor entre Pedro e Inês. A presença do ouro também reflecte a nobreza da coroação de Inês de Castro. O Ouro, material nobre que representa a riqueza e o poder, aparece nesta peça na dupla dimensão representativa de majestade real (coroação de Inês) e da valorização da riqueza da própria vida, da glória mas também dos sofrimentos do amor. Os corações assentam numa cama de flores, aludindo ao rosto de Inês, inocente e pálido (“brancas flores”) e, à comparação da sua morte com o desfalecimento de “uma flor cortada/antes do tempo”. Os corações são rodeados por várias flores brancas que remetem para descrição de sua morte: “Tal está, morta, a pálida donzela, secas do rosto as rosas e perdida/A branca e viva cor…” Por último, a escultura apresenta um tom azul (o célebre azul de Alcobaça), evocando aqui o local onde os dois se encontram até hoje, o Mosteiro de Alcobaça.
Rua D. Pedro V | Cidade de Alcobaça
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EN
The story of the tragic love of Pedro and Inês de Castro is the inspiration of our sculpture, which symbolically seeks to represent their love, interrupted by the death of Inês de Castro. Based on stanza 132: The great love associated with the tragedy that victimized Inês de Castro, are represented two human hearts whose great scale tries to reflect “the charms whereby could Love the love subdue “, in which “the love is a tyrant, [and] is not content with tears, demands human sacrifices.” This love is evidenced by the presence of the heart of the two lovers, D. Pedro – “The one who made her Queen” – and Inês de Castro. The hearts meet together side by side, as was his desire in life and for eternity (aeturnus), as D. Pedro wanted it to be – he order to transfer the body, bringing it to the Monastery of Alcobaça, where he made her Queen, crowning her two years after his death. Their graves would be together, so that they would remain united ad aeternum. The hearts, especially that of Inês de Castro, emerge streaked with gold to extol the value of the symbol of life – the heart – whose life, paradoxically, was destroyed by love. The presence of gold also reflects the nobility of Inês de Castro’s coronation. The hearts settle on a bed of flowers, alluding to the face of Inês, innocent and pale and the comparison of her death with the fading of “a flower cut before the time.” The hearts are surrounded by several white flowers that refer to the description of her death: “Such is the dead, the pale maiden, dried the face of roses and lost / The white and vivid colour …”Finally, the sculpture shows a blue tone (the famous blue of Alcobaça), evoking the place where the two rest till this day, the Monastery of Alcobaça.
Rua D. Pedro V | Cidade de Alcobaça